É muito comum testemunharmos no futebol mundial os filhos
seguindo o mesmo destino dos pais nos campos, ou mesmo de irmãos que se tornam
futebolistas. Caso dos gêmeos Ronald e Frank De Boer, do Ajax e da Holanda; dos
irmãos Michael e Brian Laudrup, da Dinamarca; de Cesare Maldini (pai) e de
Paolo Maldini (filho), ambos do Milan e da Itália, dentre outros.
No Brasil, atualmente temos os irmãos Richardson e
Alecsandro, que são filhos de Lela, campeão brasileiro com o Coritiba, em 1985;
também tivemos os irmãos vitoriosos Sócrates (ex-Corinthians) e Raí (ex-São
Paulo); e presenciamos Edinho, filho do Rei Pelé, defendendo o gol do Santos na
década de 90. Um dos sobrenomes de maior representatividade no futebol
tupiniquim é o da família Da Guia, pois de lá saíram vários craques:
Ladislau da Guia (irmão
de Domingos da Guia): Maior artilheiro da história do Bangu, com 222 gols em
325 jogos. Participou da histórica conquista do campeonato carioca de 1933, que
foi o primeiro disputado por equipes profissionais.
Era conhecido como “Ladislau, o Tijoleiro”, por conta de um
chute potente que desferia contra a meta adversária. Esse chute também tinha um
apelido: “tijolo quente”. Ladislau da Guia foi convocado para a Copa do Mundo
de 1930, mas recusou-se e preferiu ficar no Bangu. Era presença certa na
Seleção Carioca de Futebol, no tempo em que havia disputa entre os estados.
Teve uma passagem relâmpago por outros clubes: Vasco, Flamengo, São Paulo e
Canto do Rio, e toda vez saiu desses clubes, sempre voltou ao Bangu. Após o
encerramento da carreira, ingressou na polícia, e se aposentou como agente da
Polícia Especial do Exército.
Faleceu em 31 de outubro de 1988, com 82 anos.
Domingos da Guia:
Um dos maiores zagueiros da história do futebol mundial, e tido por muitos como
o maior zagueiro brasileiro de todos os tempos. Assim como o irmão Ladislau,
começou a carreira no Bangu, e sua importância para o clube é tamanha que seu
nome é citado no hino do clube. Também tinha uma jogada que era sua marca
registrada: a “Domingada”, onde Domingos da Guia saía da defesa com a bola
dominada e driblava os atacantes adversários. Por conta de sua imensa
habilidade, ficou conhecido como “Divino Mestre”.
Fez sucesso também no Nacional de Montevidéu, onde foi
campeão uruguaio em 1933; Vasco, onde foi campeão carioca de em 1934; Boca Jrs,
da Argentina, onde foi campeão argentino de 1935; Flamengo, onde conquistou os
cariocas de 1939, 1942 e 1943, e Corinthians. Disputou a Copa do Mundo de 1938,
na Itália, e foi um dos destaques da seleção brasileira.
Na primeira fase da copa, o Brasil venceu a Polônia por 6x5
num jogo histórico, e a Alemanha foi derrotada pela Suíça por 4x2. Em meio à
popularidade da teoria da supremacia da raça ariana, o cartunista baiano Djalma
Pires Ferreira, mais conhecido como “Théo”, faz uma charge mostrando um
Domingos da Guia imponente ao lado de um Hitler baixinho, barrigudo e
assustado. Um belo tapa com luva de pelica na cara do Fuher, uma vez que o
Brasil era uma seleção mestiça e um time bastaste competitivo (e muito melhor
do que a Alemanha).
Obdulio Varela, jogador símbolo da conquista do Uruguai na
Copa de 1950, sobre Domingos da Guia:
“O melhor que vocês já tiveram foi Domingos,
completo. Campeão lá (Brasil), aqui (Uruguai) e na Argentina".
Domingos da Guia faleceu em 18 de maio de 2000, aos 87 anos.
Ademir da Guia (filho de Domingos da Guia): Maior
jogador da história do Palmeiras, e herdou do pai o primeiro apelido: “o
Divino”. Como de praxe, começou a carreira no Bangu, e de lá veio para o
Palmeiras, em 1961, onde era o maestro da famosa e fantástica “Academia de
Futebol”, que durou até meados dos anos 70. Pelo verdão, Ademir da Guia conquistou
o Campeonato Brasileiro (1972 e 1973), Campeonato Paulista (1963, 1966, 1972,
1974 e 1976), Torneio Rio-São Paulo (1965), Robertão (1967 e 1969), Taça Brasil
(1967) e Troféu Ramon de Carranza (1969). Foi titular absoluto da Academia
durante 16 anos.
Apesar de todo talento que o credenciou como um dos maiores
meias do futebol mundial de todos os tempos, fez apenas 12 jogos pela seleção
brasileira, e foi convocado para a Copa de 1974, como reserva. Entrou como
titular no último jogo da Copa, na disputa do terceiro lugar contra a Polônia,
onde o Brasil foi derrotado por 1x0.
Porém, mesmo com pouca participação na seleção, entrou para
a história em 07/09/1965, num amistoso contra o Uruguai, na inauguração do
Mineirão. A seleção brasileira formada para esse jogo tinha apenas jogadores do
Palmeiras, e venceram o Uruguai por 3x0.
Depois de encerrar a carreira, Ademir da Guia entrou na
política e foi vereador na cidade de São Paulo, em 2004. Recebeu uma homenagem
através do livro “Divino, a Arte de Ademir da Guia”, de Kléber Mazziero de
Souza, em 2001, e também teve um documentário sobre sua carreira, intitulado “Um
Craque chamado Divino”.
Além desses craques, tiveram outros “Da Guia” que também
jogaram pelo Bangu: Luís da Guia (conhecido como “Perfeito”, o primeiro da
família a entrar para o futebol) e Médio da Guia. Por conta de todos os jogadores da família
terem começado no Bangu, eles ficaram conhecidos como o “Clã da Guia”.
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