domingo, 28 de abril de 2013

O Clã da Guia


É muito comum testemunharmos no futebol mundial os filhos seguindo o mesmo destino dos pais nos campos, ou mesmo de irmãos que se tornam futebolistas. Caso dos gêmeos Ronald e Frank De Boer, do Ajax e da Holanda; dos irmãos Michael e Brian Laudrup, da Dinamarca; de Cesare Maldini (pai) e de Paolo Maldini (filho), ambos do Milan e da Itália, dentre outros.

No Brasil, atualmente temos os irmãos Richardson e Alecsandro, que são filhos de Lela, campeão brasileiro com o Coritiba, em 1985; também tivemos os irmãos vitoriosos Sócrates (ex-Corinthians) e Raí (ex-São Paulo); e presenciamos Edinho, filho do Rei Pelé, defendendo o gol do Santos na década de 90. Um dos sobrenomes de maior representatividade no futebol tupiniquim é o da família Da Guia, pois de lá saíram vários craques:

Ladislau da Guia (irmão de Domingos da Guia): Maior artilheiro da história do Bangu, com 222 gols em 325 jogos. Participou da histórica conquista do campeonato carioca de 1933, que foi o primeiro disputado por equipes profissionais.

Era conhecido como “Ladislau, o Tijoleiro”, por conta de um chute potente que desferia contra a meta adversária. Esse chute também tinha um apelido: “tijolo quente”. Ladislau da Guia foi convocado para a Copa do Mundo de 1930, mas recusou-se e preferiu ficar no Bangu. Era presença certa na Seleção Carioca de Futebol, no tempo em que havia disputa entre os estados. Teve uma passagem relâmpago por outros clubes: Vasco, Flamengo, São Paulo e Canto do Rio, e toda vez saiu desses clubes, sempre voltou ao Bangu. Após o encerramento da carreira, ingressou na polícia, e se aposentou como agente da Polícia Especial do Exército.

Faleceu em 31 de outubro de 1988, com 82 anos.
Domingos da Guia: Um dos maiores zagueiros da história do futebol mundial, e tido por muitos como o maior zagueiro brasileiro de todos os tempos. Assim como o irmão Ladislau, começou a carreira no Bangu, e sua importância para o clube é tamanha que seu nome é citado no hino do clube. Também tinha uma jogada que era sua marca registrada: a “Domingada”, onde Domingos da Guia saía da defesa com a bola dominada e driblava os atacantes adversários. Por conta de sua imensa habilidade, ficou conhecido como “Divino Mestre”.
Fez sucesso também no Nacional de Montevidéu, onde foi campeão uruguaio em 1933; Vasco, onde foi campeão carioca de em 1934; Boca Jrs, da Argentina, onde foi campeão argentino de 1935; Flamengo, onde conquistou os cariocas de 1939, 1942 e 1943, e Corinthians. Disputou a Copa do Mundo de 1938, na Itália, e foi um dos destaques da seleção brasileira.

Na primeira fase da copa, o Brasil venceu a Polônia por 6x5 num jogo histórico, e a Alemanha foi derrotada pela Suíça por 4x2. Em meio à popularidade da teoria da supremacia da raça ariana, o cartunista baiano Djalma Pires Ferreira, mais conhecido como “Théo”, faz uma charge mostrando um Domingos da Guia imponente ao lado de um Hitler baixinho, barrigudo e assustado. Um belo tapa com luva de pelica na cara do Fuher, uma vez que o Brasil era uma seleção mestiça e um time bastaste competitivo (e muito melhor do que a Alemanha).
Obdulio Varela, jogador símbolo da conquista do Uruguai na Copa de 1950, sobre Domingos da Guia:


“O melhor que vocês já tiveram foi Domingos, completo. Campeão lá (Brasil), aqui (Uruguai) e na Argentina".


Domingos da Guia faleceu em 18 de maio de 2000, aos 87 anos.

Ademir da Guia (filho de Domingos da Guia): Maior jogador da história do Palmeiras, e herdou do pai o primeiro apelido: “o Divino”. Como de praxe, começou a carreira no Bangu, e de lá veio para o Palmeiras, em 1961, onde era o maestro da famosa e fantástica “Academia de Futebol”, que durou até meados dos anos 70. Pelo verdão, Ademir da Guia conquistou o Campeonato Brasileiro (1972 e 1973), Campeonato Paulista (1963, 1966, 1972, 1974 e 1976), Torneio Rio-São Paulo (1965), Robertão (1967 e 1969), Taça Brasil (1967) e Troféu Ramon de Carranza (1969). Foi titular absoluto da Academia durante 16 anos.
Apesar de todo talento que o credenciou como um dos maiores meias do futebol mundial de todos os tempos, fez apenas 12 jogos pela seleção brasileira, e foi convocado para a Copa de 1974, como reserva. Entrou como titular no último jogo da Copa, na disputa do terceiro lugar contra a Polônia, onde o Brasil foi derrotado por 1x0.

Porém, mesmo com pouca participação na seleção, entrou para a história em 07/09/1965, num amistoso contra o Uruguai, na inauguração do Mineirão. A seleção brasileira formada para esse jogo tinha apenas jogadores do Palmeiras, e venceram o Uruguai por 3x0.
Depois de encerrar a carreira, Ademir da Guia entrou na política e foi vereador na cidade de São Paulo, em 2004. Recebeu uma homenagem através do livro “Divino, a Arte de Ademir da Guia”, de Kléber Mazziero de Souza, em 2001, e também teve um documentário sobre sua carreira, intitulado “Um Craque chamado Divino”.  

Além desses craques, tiveram outros “Da Guia” que também jogaram pelo Bangu: Luís da Guia (conhecido como “Perfeito”, o primeiro da família a entrar para o futebol) e Médio da Guia.  Por conta de todos os jogadores da família terem começado no Bangu, eles ficaram conhecidos como o “Clã da Guia”.

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